terça-feira, 1 de maio de 2012

Livro-A Clavículas de Salomão


As Clavículas de Salomão (do latim Clavis Salomonis) também conhecido como As Chaves de Salomão é um dos mais célebres e enigmáticos livros de ocultismo da história. Ao mesmo tempo em que é referência frequente em outros tantos tratados e citado constantemente por vários ocultistas, sua autoria, bem como sua legitimidade são discutíveis.


Origens e conteúdo

A origem do grimório é incerta e a autoria atribuída ao bíblico Rei Salomão também é pouco provável. Mas é possível que tenha sido elaborado no século XII da era cristã na região antiga do Império Bizantino (parte da Europa, África e Ásia); apesar de ter ganhado notoriedade apenas a partir do século XVII com o Renascimento. Mesmo assim, há algumas versões que surgiram no mesmo período e têm uma estrutura bastante diferente entre si, tanto de conteúdo quanto de linguagem. Fato que apenas amplia as lacunas sobre a real procedência do original.
O conteúdo em aramaico é baseado em antigas obras da Cabala e do judaísmo pré-cristão; bem como da tradição esotérica do período clássico. Assim, de um modo geral, não difere de outros tantos grimórios e traz descrições de cerimônias que fazem uso de objetos ritualísticos confeccionados pelo próprio praticante a fim de evocar demônios que possam "trabalhar" a favor do magista.
O grimório traz ainda um alfabeto mágico e uma extensa simbologia formada por letras desse alfabeto associadas à arquétipos ocultistas, como figuras geométricas, princípios masculino e feminino da criação, ilustrações antropomórficas etc.
Da mesma forma que outros compêndios, As Clavículas de Salomão tem uma linguagem rebuscada e rituais cerimoniais tão complexos que são quase impraticáveis. Assim, podemos entender que a obra foi propositalmente elaborada dessa forma com o objetivo de impor ao pretenso mago uma espécie de pré-avaliação; ou seja, se o magista compreende as descrições do livro, pode-se considerar que tem um nível de conhecimento elevado e suficiente para utilizá-lo. Caso contrário, o magista não consegue interpretá-lo e acaba por desistir. Por outro lado, a linguagem e a complexidade podem apenas representar o contexto no qual foi elaborado; ou seja, por ocultistas medievais, escrito através de uma conotação simbólica praticamente incompreensível ao entendimento do homem moderno.


O Legemeton

Há também um manuscrito conhecido comoLegemeton ou A Chave Menor de Salomão que é paralelo às Clavículas de Salomão. Por vezes, o Legemeton é citado como um "capítulo" das Clavículas; por outras, é uma obra à parte.
De qualquer forma, este manuscrito, que traz características históricas muito próximas a das Clavículas de Salomão, é uma obra muito influente no ocultismo ocidental. Sua popularidade cresceu principalmente depois que Samuel Mathers e Aleister Crowley, no início do século XX, elaboraram uma tradução da obra do idioma original para o inglês moderno, intitulada The Goetia: The Lesser Key of Solomon the King.
O Legemeton divide-se basicamente em cinco partes: Ars GoetiaArs Theurgia GoetiaArs PaulinaArs Almadel e Ars Notoria. Cada capítulo aborda um tema específico; porém, não há necessariamente uma continuidade temática; isto é, a ordem em que estão dispostas não interfere na estrutura da obra, uma vez que são independentes entre si.
O primeiro capítulo, Ars Goetia, trata essencialmente da descrição e de uma hierarquia atribuída à setenta e dois demônios que teriam sido confinados pelo próprio Salomão e aprisionados em um vaso de bronze selado com símbolos mágicos.
Ars Theurgia Goetia é o segundo capítulo do Legemeton e traz uma descrição de trinta e um espíritos do ar, que foram igualmente invocados e confinados por Salomão, e também, instruções de como escravizar a vontade desses espíritos e proteger-se de possíveis ataques.
A terceira parte, intitulada Ars Paulina (Arte de Paulo – em referência ao apóstolo cristão que teria sido o mentor dessas técnicas) aborda tanto a invocação de Anjos, bem como, sua relação com o zodíaco, astrologia e os quatro elementos.
Ars Almadel é o quarto capítulo. Seu conteúdo é bastante prático e orienta sobre a confecção de talismãs, contendo descrições detalhadas sobre cores e materiais utilizados; além de citar conjurações e momentos astrológicos mais favoráveis.
A quinta e última parte é a Ars Notoria. A Arte Notável é a revelação que Salomão recebeu de Deus através de um anjo e traz, basicamente, orações e instruções de como utilizar este recurso de modo mais eficiente.


As Chaves contemporâneas

Atualmente, há nas bibliotecas de Londres e Paris, manuscritos medievais que seriam os exemplares mais antigos que se tem registro de As Clavículas de Salomão. No entanto, é possível encontrá-lo em várias versões em livrarias comuns e até mesmo pela Internet.
Deste modo, é evidente que encontrar uma versão "legítima" ou que ao menos se aproxime do original, não parece ser possível nos dias de hoje. Até mesmo a aplicação prática de um grimório como este parece inconcebível. De qualquer forma, As Clavículas de Salomão, é uma grande referência histórica da busca humana pela sua espiritualidade.

Livro-Malleus Maleficarum


Malleus Maleficarum (traduzido para português como Martelo das Feiticeiras ou Martelo das Bruxas) é um livro escrito em 1484 e publicado em 1486 (ou 1487), por dois monges alemães dominicanos, Heinrich Kramer e James Sprenger, que se tornou uma espécie de "manual contra a bruxaria". O livro foi amplamente utilizado pelos inquisidores por aproximadamente duzentos e cinqüenta anos, até o fim da Santa Inquisição, e servia para identificar bruxas e os malefícios causados por elas, além dos procedimentos legais para acusá-las e condená-las.
O Malleus Maleficarum traz inúmeras e exageradas descrições e, até certo ponto, apelativas e incoerentes. O livro divide-se em três partes distintas, sendo que cada parte subdivide-se em capítulos chamados de Questões. A primeira parte, que contém dezoito questões, ensina a reconhecer bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes. A segunda parte traz apenas duas ques- tões, mas a primeira está subdividida em dezesseis capítulos e a segunda em oito capítulos. Esta segunda parte expõe os tipos de malefícios, classificando-os e explicando-os detalhadamente, e os métodos para desfazê-los. A terceira e última parte, que contém uma introdução geral e trinta e cinco questões subdivididas, condiciona as formalidades para agir "legalmente" contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las e condená-las, tanto nos tribunais civis como eclesiásticos.
As teses centrais do Malleus Maleficarum fundamentaram-se na idéia de que o demônio, sob a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens para apropriar-se de suas almas. Este mal é feito prioritariamente através do corpo, único canal em que o demônio pode predominar. A influência demo- níaca é feita através do controle da sexualidade, e por ela, o demônio se apropria primeiramente do corpo e depois da alma do homem. Segundo o livro, as mulheres são o maior canal de ação demoníaca.
Ainda, a primeira e mais importante característica descrita no livro, responsável por todo o poder das feiticeiras, é copular com o demônio. Portanto, Satã é o "senhor do prazer". Dessa forma, uma vez obtida a relação com o demônio, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males, especialmente impotência masculina, impossibilidade de livrar-se de paixões desorde- nadas, oferendas de crianças à Satã, abortos, destruição das colheitas, doenças nos animais, entre outros. Porém, no próprio livro é citado que o coito com o demônio não seria exatamente carnal, já que estas criaturas eram espíritos, mas ocorria através de rituais orgíacos.


O surgimento do Malleus Maleficarum

No início do século IX, havia a crença popular sobre existência de bruxos que, através de artifícios sobrenaturais, eram capazes de provocar discórdia, doenças e morte. Por sua vez, a Igreja não aceitava a existência de bruxos e ainda, baseado no Conselho eclesiástico de São Patrício (St. Patrick), afirmava que "um cristão que acreditasse em vampiros, era o mesmo que declarar-se bruxo, confesso ao demônio" e "pessoas com crenças não poderiam ser aceitas pela Igreja a menos que revogue com suas palavras o crime que cometeu".
Na segunda metade do século X já havia penalidades severas para quem fizesse uso de artes mágicas. No século XIV (1326) a Igreja autoriza a Inquisição a investigar os casos de bruxaria. Pouco mais de cem anos depois, em 1430, teólogos cristãos começam a escrever livros que "provam" a existência de bruxos. O livro Formicarius, escrito por Thomas de Brabant, em 1480, aborda a relação entre o homem e a bruxaria.
Em uma sociedade na qual a religiosidade, política, sexualidade e artes estavam interligadas e sob o domínio da Igreja, transgredir as normas de conduta em apenas um desses campos, acarretaria, por conseqüência, numa transgressão generalizada e direta sobre o poder do clero. Dessa forma, sob o papado de Inocêncio VIII, o Malleus Maleficarum nasceu da necessidade que a Igreja Católica tinha de organizar e legitimar suas práticas, principalmente quando relacionadas à Santa Inquisição, que já atuava desde o final do século XII. Até aquele momento, não havia uma referência oficial que abordasse a questão da bruxaria. Fazia-se necessário um documento escrito, aprovado pelo corpo eclesiástico, que tivesse valor legal e determinasse com maior precisão possível, as práticas de feitiçaria e suas respectivas punições.
Heinrich Kramer e James Sprenger, através de uma bula de Inocêncio VIII, foram nomeados inquisidores para que investigassem as práticas de bruxaria nas províncias do norte da Alemanha e incumbidos de produzir a obra que institucionaliza-se e legitima-se a ação da Igreja. Por aproximadamente dois anos, encarregaram-se da produção do espesso trabalho de mais de quatrocentas páginas. Por fim, o Formicarius foi acoplado e passou a fazer parte do tratado eclesiástico intitulado Malleus Maleficarum. A imprensa, recém surgida, facilitou a divulgação da campanha movida pela Igreja contra as feiticeiras.


Mulheres & Feiticeiras

Tradicionalmente, nas culturas pré-cristãs, a mulher era objeto de adoração e respeito. Era a fonte doadora da vida e símbolo da fertilidade. Porém, mesmo sob a alegação formal de combater a heresia em todas as suas variações, as descrições contidas no Malleus Maleficarum, fundamentadas em conceitos de uma civilização patriarcal, contribuíram para construir uma idéia fantasiosa e infamante sobre as mulheres.
Esta idéia podia ser legitimada através do preceito que Eva surgiu de uma costela torta de Adão. Logo, ocorreu a associação que, conseqüentemente, todas as mulheres não podiam ser retas em sua conduta. Ainda, o pecado original ocorreu através do ato sexual (na metáfora de Adão e Eva comendo maçã) e, assim, a sexualidade era o ponto mais vulnerável do ser humano. Portanto, segundo o livro, "mas a razão natural está em que a mulher é mais carnal do que o homem, o que se evidencia pelas suas muitas abominações carnais".
Desse modo, qualquer mulher que se dispusesse a tratar pequenas enfermidades ou ferimentos com preparados do- mésticos à base de ervas, morasse sozinha e tivesse um animal de estimação (um gato, por exemplo), tivesse com- portamento pernicioso, entre outras alegações superficiais, podia ser acusada de bruxaria.
tortura, como é sugerida no próprio Malleus Malefi- carum, era o método utilizado para extrair as confissões das supostas bruxas. Aparelhos como A dama de ferro e aCadeira das Bruxas eram amplamente utilizados. Além de torturas menos sofisticadas, como aquecimento dos pés ou introdução de ferros sob as unhas. Deste modo, a ré passava por tantos suplícios que acabava por admitir as sentenças elaboradas pelo inquisidor.
Ainda, as lendas em torno das supostas bruxas propa- gavam-se entre o povo. Através da ação demoníaca, uma mulher podia ser capaz de se transformar em animais, voar e manipular a vontade, confundir o pensamento e a atitude de outras pessoas. Provocar ereção masculina ou a impotência sexual; além de inibir ou aumentar a libido de suas vítimas. As bruxas, em seus rituais, dançavam nuas nos campos e se alimentavam de fetos e cadáveres.
Atualmente, aos olhos da ciência moderna, principalmente da psicanálise, diversos "sintomas e indícios" de possessão demoníaca descritos no Malleus Maleficarum são apenas disfunções mentais, como histeria e alucinações. O ocorrido em Salem, Nova Inglaterra, no fim do século XVII, é um bom exemplo de histeria coletiva. Ainda sob o olhar dos historiadores modernos, os motivos que levaram à produção do Malleus Maleficarum não são mais que artimanhas políticas com pouca ou nenhuma argumentação religiosa.
De qualquer forma, o Malleus Maleficarum é um produto religioso e político dos mais significativos da Idade Média. Não é possível dissociá-lo do contexto histórico da Santa Inquisição, da Igreja Católica medieval, tampouco dos principais acontecimentos daquela época, como a peste negra, a queda do sistema feudal, a invenção da imprensa e o início da Renascença. Isto porque, de forma direta ou até mesmo contraditória, um acontecimento impacta sobre outro. Assim, o Malleus Maleficarum é mais que um "código penal eclesiástico" utilizado na Idade Média; é um registro fiel do que foi parte do pensamento da Igreja Católica medieval, com uma imensa oposição à figura da mulher e um desejo ensandecido de manter a autoridade política, econômica e religiosa e, desse modo, de todo um contexto deste capítulo da história da humanidade.

Livro-Pócrífos


A palavra Apócrifo vem do grego Apokryphos e significa oculto ou não autêntico. Mas este termo é usado, principalmente para designar os documentos do início da era Cristã, que abordam também a vida e os ensinamentos de Jesus, mas não foram inclusos na Bíblia Sagrada por serem considerados ilegítimos.
A origem dos Livros Apócrifos (também chamados de Livros Gnósticos; do grego Gnosis, que significa Conhecimento) nos remete ao ano 367 d.C. Por ordem do Bispo Atanásio de Alexandria, que seguia a resolução do Concílio de Nicéia ocorrido em 325 d.C, foram destruídos inúmerosmanuscritos dos primórdios do Cristianismo. Esses documentos eram supostamente fantasiosos e deturpavam as bases da doutrina Católica que se estabelecia naquele momento. Porém, cientes da importância histórica destes papiros originais, os Monges estabelecidos à margem do rio Nilo, optaram por não destruí-los. Ao contrário, guardaram os códices de papiros dentro de urnas de argila e as enterraram na base de um penhasco chamado Djebel El-Tarif. Ali ficaram esquecidos e protegidos por mais de 1500 anos.
Em 1945, Mohammed Ali Es-Samman e seus irmãos, residentes na aldeia de El-Kasr, estavam brincando próximos ao penhasco, quando encontraram as urnas escondidas durante séculos. Pensando que se tratava de ouro, acabaram quebrando uma das urnas, mas só encontraram 13 códices com mais de 1000 páginas de papiro. Decepcionados, levaram para casa, e sua mãe chegou a usar alguns papiros para acender o fogo.
Em 1952, o museu Copta do Cairo recebeu os manuscritos para sua guarda. Faltavam algumas páginas e um códice fora vendido pela família de Mohammed para o Instituto Jung, de Zurique. Esses códices passaram a ser chamados Bíblia de Nag Hammadi, localidade onde fora encontrado os manuscritos. Antes desta descoberta, só se conheciam os textos Gnósticos pelas citações de outros autores. Dos 53 textos encontrados, 40 eram totalmente desconhecidos da comunidade científica. Estes Manuscritos foram redigidos em Copta, antiga língua egípcia, que utilizava caracteres gregos.
Em 1947, dois pastores descobriram em uma gruta próxima ao Mar Morto, fragmentos e rolos escritos em hebraico. Logo se percebeu a grandiosidade desta descoberta. Havia textos condizentes com a Bíblia e outros textos apócrifos. A partir de então, outras grutas foram sendo encontradas, contendo muito material em grande parte identificado como sendo do Antigo Testamento. Até este momento, todas as grutas encontradas continham material escrito em hebraico e aramaico. Porém, em 1955 foi descoberta uma gruta que continha papiros e jarros com escrita em grego. Comprovou-se que se tratavam dos mais antigos manuscritos já descobertos pelo homem, datados de tempos anteriores aos dias de Cristo.
Um dos rolos, o mais conservado, apresenta uma cópia do Livro de Isaías que, ao ser comparado com as cópias modernas, trouxe a certeza de que não houve nesses dois milênios, nenhuma alteração de sua mensagem profética. Encontra-se também O Manuscrito de Lameque, conhecido como O Apócrifo de Gênesis, que apresenta um relato ampliado do Gênesis. Há ainda ARegra da Guerra, que narra a grande batalha final entre os filhos da luz e os filhos das trevas; sendo os descendentes das tribos de Levi, Judá e Benjamim, retratados como os filhos da luz, e os Edomitas, Moabitas, Amonitas, Filisteus e Gregos, representados como os filhos das trevas.
Dois anos após a primeira descoberta, foram encontradas as ruínas do Mosteiro de Khirbet Qumran, uma propriedade dos Essênios. Onde provavelmente teriam sido confeccionadas as cópias das Sagradas Escrituras. Com certeza, pelo mesmo motivo que os monges de Nag Hammadi enterraram os códices dos Evangelhos Apócrifos, os essênios esconderam nas grutas de Qumran, no Mar Morto.
Como vimos, foi através dessas descobertas que atualmente temos acesso a esses livros Apócrifos que deveriam, de acordo com a Igreja Católica, ter sido destruídos há muitos séculos.
Não sabemos exatamente qual o critério usado pela Igreja para designar os livros que eram apócrifos ou canônicos (do grego Kanón - catálogo de Livros Sagrados admitidos pela Igreja Católica). Mas provavelmente, era apenas uma conveniência daquela época. O mais interessante, é que a própria Igreja Católica reconhece que muitos desses textos foram escritos por autores sagrados. E por que então não reconhecê-los como canônicos? E por que tais textos foram perseguidos e condenados durante séculos?
Atualmente, a Igreja Católica reconhece como parte da tradição os Evangelhos Apócrifos de Tiago, Matheus, O Livro sobre a Natividade de Maria, o Evangelho de Pedro e o Armênio e Árabe da Infância de Jesus. Mas a maioria dos livros não é reconhecida. Ao todo são 112 livros, 52 referentes ao Antigo Testamento e 60 em relação ao Novo Testamento. Dentre eles estão Evangelhos (como o de Maria Madalena, Tomé e Filipe), Atos (como o de Pedro e Pilatos), Epístolas (como a de Pedro à Filipe e a Terceira Epístola aos Coríntios) e Apocalipses (como de Tiago, João e Pedro) Testamentos (como de Abraão, Isaac e Jacó). Além de A Filha de Pedro,Descida de Cristo aos Infernos, etc.
Diante de tudo isso, é difícil compreender como é possível um livro considerado sagrado, ser além de escrito, formulado pelos homens conforme suas idéias retrógradas e conveniências políticas e sociais. É apenas mais um motivo para se contestar a Antiga Igreja Católica, já tão bem conhecida pela sua "Autoridade Divina".

Livro-Necronomicon


Necronomicon (Livro de Nomes Mortos) também conhecido por Al Azif (Uivo dos Demônios Noturnos) foi escrito por Abdul Alhazred, em torno de 730 d.C, em Damasco. Ao contrário do que se pensa, não se trata somente de um compilado de rituais e encantos, e sim de uma narrativa dividida em sete volumes, numa linguagem obscura e abstrata. Algunstrechos isolados descrevem rituais e fórmulas mágicas, de forma que o leitor tenha uma idéia mais clara dos métodos de evocações utilizados. Além de abordar também as civilizações antediluvianas e mitologia antiga, tendo sua provável base no Gênese, no Apocalipse de São João e noapócrifo Livro de Enoch. Reúne um alfabeto de 21 letras, dezenove chaves (invocações) em linguagem enochiana, mais de 100 quadros mágicos compostos de até 240 caracteres, além de grande conhecimento oculto.
Segundo o Necronomicon, muitas espécies além do gênero humano habitaram a Terra. Estes seres denominados Antigos, vieram de outras esferas semelhantes ao Sistema Solar. São sobre-humanos detentores de poderes devastadores, e sua evocação só é possível através de rituais específicos descritos no Livro. Até mesmo a palavra árabe para designarantigo, é derivado do verbo hebreu cair. Portanto, seriam Anjos Caídos.
O autor do Necronomicon, Abdul Alhazred, nasceu em Sanna no Iêmen. Em busca de sabedoria, vagou de Alexandria ao Pundjab, passando muitos anos no deserto despovoado do sul da Arábia. Alhazred dominava vários idiomas e era um excelente tradutor. Possuía também habilidades como poeta, o que proporcionava um aspecto dispersivo em suas obras, incluindo o Necronomicon. Abdul Alhazred era familiarizado com a filosofia do grego Proclos, além de matemática, astronomia, metafísica e cultura de povos pré-cristãos, como os egípcios e os caldeus. Durante suas sessões de estudo, o sábio acendia um incenso que combinava várias ervas, entre elas o ópio e o haxixe.
Alhazred adaptou a interpretação de alguns neoplatonistas sobre o Necronomicon. Nesta versão, um grupo de anjos enviado para proteger a Terra tomou as mulheres humanas como suas esposas, procriando e gerando uma raça de gigantes que se pôs a pecar contra a natureza, caçando aves, peixes, répteis e todos os animais da Terra, consumindo a carne e o sangue uns dos outros. Os anjos caídos lhes ensinaram a confeccionar jóias, armas de guerra e cosméticos; além de ensinar encantos, astrologia e outros segredos.
Existe uma grande semelhança dos personagens e enredos das narrações do Necronomicon em diversas culturas. O mito escandinavo do apocalipse, chamado Ragnarok, é sugerido em certas passagens do Livro; além dos Djins Árabes e Anjos Hebraicos, que seriam versões dos deuses escandinavos citados. Este conceito também é análogo à tradição judaica dos Nephilins.
Uma tradução latina do Necronomicon foi feita em 1487 pelo padre alemão Olaus Wormius, que era secretário de Miguel Tomás de Torquemada, inquisidor-mor da Espanha. É provável que Wormius tenha obtido o manuscrito durante a perseguição aos mouros. O Necronomicon deve ter exercido grande fascínio sobre Wormius, para levá-lo a arriscar-se em traduzi-lo numa época e lugar tão perigosos. Uma cópia do livro foi enviada ao abade João Tritêmius, acompanhada de uma carta que continha uma versão blasfema de certas passagens do Gênese. Por sua ousadia, Wormius foi acusado de heresia e queimado juntamente com as cópias de sua tradução. Porém, especula-se que uma cópia teria sobrevivido à inquisição, conservada e guardada no Vaticano.


O percurso histórico do Necronomicon continua em 1586, quando o mago e erudito Jonh Dee anuncia a intenção de traduzi-lo para o idioma inglês, tendo como base a versão latina de Wormius. No entanto, o trabalho de Dee nunca foi impresso mas chegou até as mãos de Elias Ashmole (1617-1692), estudioso que os reescreveu para a biblioteca de Bodleian, em Oxford. Assim, os escritos de Ashmole ficaram esquecidos por aproximadamente 250 anos, quando o mago britânico Aleister Crowley (1875-1947), fundador do Thelema, os encontrou em Bodleian. O Thelema é regido pelo Livro da Lei, obra dividida em três capítulos na qual fica evidente o plagio da obra de Jonh Dee. No ano de 1918, Crowley conhece a modista Sônia Greene e passa alguns meses em sua companhia. Sônia conhece o escritor Howard Phillip Lovecraft em 1921, e casam-se em 1924. Neste período, o autor lança o romance A Cidade Sem Nome e o conto O Cão de Caça, onde menciona Abdul Alhazred e o Necronomicon. Em 1926, um trecho da obra O Chamado de C`Thullu menciona partes do Livro da Lei, de Crowley. Portanto, o ressurgimento contemporâneodo Necronomicon deve-se a Lovecraft, apesar de não haver evidências de que o escritor tivesse acesso ao Livro dos Nomes Mortos.
Algumas suposições aludem a outras cópias que teriam sido roubadas pelos nazistas na década de 30. Ainda nesta hipótese, haveria uma cópia do manuscrito original feita com pele e sangue dos prisioneiros dos campos de concentração, que na 2ª Guerra foi escondida em Osterhorn, uma região montanhosa localizada próxima a Salzburg, Áustria. Atualmente, não é provável que ainda exista um manuscrito árabe do Necronomicon. Uma grande investigação levou a uma busca na Índia, no Egito e na biblioteca de Mecca, mas sem sucesso.

A Sucultura Gótica-Origens,influências e consolidação


Introdução

Gótico: apenas uma palavra
Ao longo dos anos, o termo gótico foi usado como adjetivo e classificação de várias expressões artísticas, estéticas e comportamentais. Mas, em sua maioria, estas classificações não possuem nenhuma relação com o significado primitivo da palavra.
O termo Gótico, que originalmente significa apenas relativo a Godos ou proveniente deles, foi usado a partir do início da Renascença, para designar de forma depreciativa a produção cultural ocorrida entre os séculos XII e XV e posteriormente de toda Idade Média, a qual foi associado o conceito de Idade das Trevas, em oposição à nova Idade da Razão ou da Luz: o Iluminismo (XVII e XVIII). Mas nos séculos XVIII e XIX, por exemplo, gótico foi associado ao período medieval e aplicado à Literatura. Além disso, o termo Goticismo tem origem inglesa, Gothicism, e relaciona-se apenas à Literatura.
Em 1979 o termo gótico já foi utilizado para designar o movimento sócio-cultural que se constituía e se consolidaria poucos anos depois. Mas, a subcultura gótica/darkwave não possui nenhuma relação com os Godos, como a própria "arte gótica" (entre os séculos XII e XV) não possui. Portanto, em uma de suas primeiras aplicações, a palavra Gótico já foi usada com um sentido que não corresponde ao original, e torna-se nítida a diversidade de significados que esta palavra traz em si.


A subcultura Gótica/Darkwave
A subcultura gótica (relacionada a Darkwave a ponto de ser assim chamada por alguns) como conhecemos atualmente, é um contexto artístico e comportamental que inclui literatura, música, cinema, artes plásticas e vestuário (entre outros), de forma que um elemento enriqueça o outro e multiplique-se.
Pode-se dizer que sua origem ocorreu nos primeiros anos da década de 1980, mas suas influências iniciam-se no Romantismo do século XIX e passam pelo Modernismo, com o Impressionismo, Expressionismo e Surrealismo e Cabaret Culture, do século seguinte. Porém, a Geração Beatnick, inspirada na boêmia moderna, filosófica e artística francesa a partir de 1950 e posteriormente pelos escritores Beats dos Estados Unidos, é a influência mais recente e significativa da subcultura gótica/darkwave.
No final da década de 60, os beatnicks se diluíram e formaram ramificações como o movimento Punk e Glam da década de 70. A música de artistas como David Bowie e Velvet Underground, referências do Glam e do Punk, trouxeram vários elementos da cultura beatnick, como a prosa e a poesia. Dessa forma, o Glam e o Punk foram influenciados pela Cultura Beatnick, mas também foram determinantes nas características da subcultura gótica.
Mas todas essas tendências que influenciaram e compuseram a subcultura gótica, desde o Romantismo até as mais recentes, são apropriações e releituras através de abordagens distintas, muitas vezes, de forma alegórica e metafórica. As transições entre uma e outra, ocorrem sem rompimentos bruscos, de forma que as tendências posteriores resgatam elementos primitivos e somam-se aos seguintes.
É importante salientar que os fatores que definem uma corrente artística, filosófica ou apenas comportamental, não são apenas os temas adotados, mas principalmente a abordagem, ou a forma como os temas são trabalhados e expostos.
A subcultura gótica/darkwave, não se baseia apenas em alguns temas específicos, mas principalmente, em uma abordagem própria. Para que possamos compreender com mais clareza as características principais que compõem a subcultura gótica, desde o uso do termo gótico até as influências culturais e comportamentais mais presentes, é necessário recapitular alguns pontos.


A Baixa Idade Média

O período da Idade Média, compreendido entre os séculos V e XV, divide-se em dois sub-períodos: Alta Idade Média (V à XI) e Baixa Idade Média (XI até o século XV). É no início da Baixa Idade Média, na França, que surge a Arte Cristã ou Opus Francigenarum (obra francesa), que, aos poucos, substituiria o estilo românico e futuramente, no período da Renascença, passaria a ser conhecida, pejorativamente, como Arte Gótica.
O Teocentrismo, baseado na concepção de que Deus é o centro do universo, foi a corrente de pensamento predominante no período medieval. Assim, a Igreja Católica, responsável pela "educação espiritual" dos homens, consolidou-se como a principal autoridade. O poder econômico e político, e as influências sobre as ciências e artes, subordinavam reinados ao comando do clérigo. Era a Igreja que ditava os rumos que a ciência deveria seguir, que dirigia os exércitos e proclamava as leis. Além disso, a peste negra do século XIV, a exploração do feudalismo e a imutável hierarquia social contribuíram para a criação de uma situação calamitosa no fim do século XV. No século seguinte haveria o início de uma reação em todos os níveis, com o começo da Idade Moderna e a transição sócio-econômica para o Renascimento.


A Renascença e a Idade das Trevas

O período iniciado a partir do século XV (apesar de iniciar em épocas diferentes em cada lugar e ter várias fases) conhecido como Renascença, que surgiu na Itália e distribui-se gradativamente por outras regiões do continente europeu, consolidou uma idéia de ressurreição nas artes e na ciência baseadas no resgate da Antiguidade clássica greco-romana.
Além de inovações nos aspectos políticos e sociais e avanços técnicos e científicos, foi na Renascença que outros continentes foram descobertos através da navegação, que nasceu a imprensa e inventou-se a bússola. Foi neste período que o alemão Martin Luther deu início à Reforma Protestante; que Michelangelo pintou a Capela Sistina; que Copérnico escreveu De Revolutionibus Orbium, entre outros.
Os renascentistas acreditavam que a arte clássica greco-romana, que admiravam e buscavam reviver, havia sido denegrida na Idade Média pelos cristãos e, que a Igreja, através do poder exercido pelos dogmas religiosos, vetava os avanços tecnológicos e condicionava a produção artística. Neste contexto renascentista inclui-se também uma forte oposição ao Clero, embutida no Antropocentrismo, corrente filosófica na qual o homem é o centro do universo e, naturalmente, oposta ao Teocentrismo medieval. Dessa forma, mesmo sendo considerada uma etapa evolutiva do período medieval, a Renascença desprezava a cultura da Idade Média.
Assim, grande parte da arte produzida na Idade Média, como a arquitetura, escultura e pintura, foi classificada como gótica, em alusão ao Godos, povo germânico que invadiu o império romano a partir do século III.
Esta classificação tinha a clara intenção de denegrir a produção artística medieval, por considerá-la bárbara, rude, grosseira, exagerada; ou seja, com os mesmos adjetivos que caracterizavam os Godos.
Assim, a civilização dos Godos, que havia sido diluída no século VIII, portanto, 700 anos antes da Renascença, tornou-se um "bode-expiatório" dos renascentistas e a própria palavra Gótico teve seu sentido ampliado, podendo ser compreendido como sinônimo de bárbaro ou vulgar. Ainda, ao longo dos anos, a Idade Média iria tornar-se conhecida como Idade das Trevas, Noite da Humanidade, entre outras denominações.


Racionalismo, Iluminismo e Revoluções

Personagens como René Descartes, John Locke, Pascal e Newton figuraram no século XVII. O Racionalismo, baseado no conceito de que apenas a Razão (raciocínio lógico) seria suficiente para o desenvolvimento da humanidade, e o Humanismo, resgatando os filósofos da Antiguidade, eram as correntes que influenciavam as artes e as ciências. No panorama artístico, a arquitetura, escultura e pintura, destacaram o Classicismo e o Barroco.
Em meados do século XVII surge Iluminismo - tendo seu apogeu no século XVIII - que de certo modo, é herdeiro dos conceitos racionalistas e humanistas dos séculos anteriores aliado a uma maior liberdade de expressão individual. É o movimento iluminista que proclama o início de uma "era de luz" para a humanidade e um dos impulsionadores do capitalismo, além de tornar-se uma das principais referências na arte.
Neste momento, surge na Inglaterra e alastra-se pela Europa, um fenômeno sócio-político que seria conhecido como a 1ª Revolução Industrial. Ainda, desenvolve-se o Liberalismo político/ econômico e consolida-se o capitalismo. Assim, o século XVIII torna-se conhecido como o "Século das Luzes". Porém, todas essas mudanças bruscas trazem efeitos colaterais no âmbito social.
Os avanços tecnológicos que proporcionaram a Revolução Industrial deram início a uma urbanização desenfreada e sem planejamentos com a migração do homem do campo para as áreas centrais, que resultaram em cidades sem infra-estrutura social e administrativa. As jornadas de trabalho tornam-se muito extensas e o valor da mão-de-obra, irrisório. Iniciam-se reações violentas por parte dos trabalhadores explorados e desempregados. Em algumas regiões, o número do crescimento populacional quadruplica. Em Paris, 25% da população é constituída por mendigos. Surgem as epidemias de tifo, cólera e tuberculose. Por outro lado, nascem os conceitos de capitalismo e a classe burguesa. No final deste século ocorre a Revolução Francesa (1789), que marca o início da era contemporânea. Baseadas em conceitos do Iluminismo, no século XVIII se desenvolvem as idéias Republicanas, postas em prática também na Independência dos Estados Unidos, em 1777. No Brasil, estas idéias também chegaram na mesma época, mas a nossa tentativa de independência, a Inconfidência Mineira, é abortada em 1789.
O quadro de miséria e desigualdade criado na Europa gerou uma insatisfação social e resultou num processo de regressão que buscava os ideais medievais ignorados pela Renascença. Inicialmente, essa tendência desenvolvia-se apenas no sentimento e comportamento coletivo. Porém, logo passou a designar um rumo artístico e uma nova visão do mundo centrada no indivíduo. A partir desta nova concepção iniciou-se o período do Romantismo.


O Romantismo

O Romantismo é um período cultural que se inicia na Europa no final do século XVIII, estendendo-se e desenvolvendo-se por outras partes do globo até o final do século XIX. Pode-se considerar que seu início ocorreu na Itália, Inglaterra e Alemanha (na Alemanha conhecido comoSturm und Drang - Tempestade e ímpeto). Porém, foi na França que o romantismo intensificou-se mais do que em qualquer outra nação. Foi através dos artistas franceses que os ideais românticos se solidificaram pela Europa e América. Sob o aspecto ideológico, o Romantismo pode ser considerado uma reação de fuga, ao iluminismo e racionalismo do período anterior.
As principais características do Romantismo são a valorização das emoções em temas que recorrem à religião, nacionalismo, amor, individualismo e subjetivismo, desenvolvidos a partir da originalidade e liberdade criativa do artista. Na pintura, o francês Delacroix e o espanhol Francisco Goya são os maiores representantes. Na música, ocorre a potencialização da expressão individual através de temas folclóricos e nacionalistas. Neste período romântico da música, destacam-se as últimas obras de Beethoven, além das composições de Wagner, Chopin e Schumann, entre outros. Mas foi através da Literatura que o Romantismo teve suas expressões mais intensas e solidificou sua identidade.

Romantismo Literário e Gothic Novel
A obra do escritor alemão GoetheOs Sofrimentos do Jovem Werther, publicada em 1774 foi uma das precursoras do romantismo. Este livro trazia intensidade emotiva sob a liberdade criativa do autor, além de outros aspectos fundamentais do romantismo.
Além disso, uma das principais características do Romantismo Literário era a evocação à Idade Média em seus temas. Neste caso, o autor almejava uma idealização que não correspondia à sociedade ou ao período em que vivia realmente. Esta característica é conhecida como "Espírito de evasão". Porém, esta referência medieval do romantismo era sob uma perspectiva idealizada. Isto é, buscava resgatar valores como honra e valentia que, na visão do escritor, eram comuns no período medieval, mas que não necessariamente existiram.
Horace Walpole (O Castelo de Otranto - 1765) também abordou a Idade Média, mas diferentemente da "idealização positiva" de outros românticos, o fez através de uma visão soturna de cenários decadentes (como castelos em ruínas) que impunham um clima de mistério e terror sobrenatural ao leitor. Foi este conceito de terror e sobrenatural, entre outros elementos usados, que passou a ser classificado como Gothic Novel. Neste caso, o termo Gothic é aplicado como sinônimo de obscuro ou medieval. Ainda,Literary Gothicism, que no Brasil seria conhecido como Romance Gótico ouLiteratura Gótica, teria grande influência no ultra-romantismo brasileiro. Os termos Gothicism ou Goticismo devem ser associados apenas à Literatura.
Nas últimas décadas do século XVIII emergiram escritores como Ann Radcliffe, autora de Os Mistérios de Udolpho e a poesia de William Blake com Canções da Experiência e da Inocência(ambos em 1794), além de Frankenstein, de Mary Shelley, já no início do século XIX. Até as décadas de 30 e 40, o romantismo ainda figura como a principal orientação da produção artística. Essa tendência romântica atinge também a moda, hábitos e costumes da sociedade. Na França, por exemplo, há um resgate de elementos do vestuário, linguagem e costumes do período anterior à Revolução. Na Inglaterra, o Literary Gothicism ressurge na era vitoriana, entre a burguesia.
Ainda na primeira metade do século, tem início o Romantismo brasileiro. A obra Suspiros Poéticos e Saudades (1836) de Gonçalves de Magalhães é considerada a precursora desse estilo literário no Brasil. O Romantismo no Brasil estende-se "oficialmente" até 1880 e divide-se em três gerações: Nacionalista, Ultra-romântica e Condoreira.
Na segunda metade do século XIX surgiram outros movimentos que influenciaram várias expressões artísticas. O Esteticismo com o conceito de auto-suficiência da arte (arte pela arte), sem que esta sofresse interferência de outros valores, como sociais, religiosos ou políticos. O parnasianismo, essencialmente literário, que reagia aos excessos românticos e negava o subjetivismo, baseando-se no domínio da razão e nos ideais voltados para o belo. Também em reação aos excessos do Romantismo, surge o Realismo e o Naturalismo. No Brasil temos uma transição gradual, com autores como Machado de Assis, autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e inúmeros outros clássicos reconhecidos internacionalmente.


O Simbolismo

O Simbolismo, surgido na França na segunda metade do século XIX, caracteriza-se pelo subjetivismo, individualismo e misticismo; rejeitando valores do realismo e naturalismo como a abordagem social. Artes plásticas, teatro e, principalmente, Literatura, são orientadas pelas tendências simbolistas.
No Simbolismo literário rejeitava-se as formas parnasianas e valorizava-se a sugestão sutil das idéias, usando as metáforas como um de seus principais recursos. Ao mesmo tempo em que o Simbolismo criticava os excessos românticos, fazia uso de certos elementos deste, como o próprio subjetivismo. O Manifesto Simbolista (1886), de Jean Moreas, declara a poesia simbolista "inimiga do ensino, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva".
O ensaio de PoeThe Philosophy of Composition (1846), influenciaria também as teorias deBaudelaire, que por sua vez agiu diretamente sobre Mallarmé. A obra de Poe também se faz atuante sobre Rimbaud e Oscar Wilde e ainda sobre o Modernismo do início do século XX. Através de sua obra, As Flores do Mal (1857), Baudelaire passou a ser considerado o precursor do simbolismo literário.
Há ainda, o Decadentismo, no qual abandona o conceito de objetividade realista e volta-se às realidades interiores e subjetivas, compondo também a corrente simbolista. Porém, segundo Fernando Pessoa, esses movimentos, especialmente o decadentismo e o simbolismo, surgiram do romantismo e eram "inversão das posições mentais da inteligência".


O Modernismo

Neste momento, o pré-modernismo já sugeria os conceitos inovadores que se destacariam anos depois com a consolidação do Modernismo. A Belle Époque (aproximadamente 1900-1910), surgida na França, é resultado de um período otimista que se reflete nas artes, como o cinema, e nos níveis sociais, com o Cancan dos Cabarés e o glamouroso Moulin Rouge. Paris torna-se a capital mundial da cultura e os boulevards, livrarias e teatros consolidam a imagem da prosperidade intelectual e cultural francesa. Esta "atmosfera" entende-se até meados da década de 40 e consagra um período de ebulição cultural, política e social na Europa.
Nas primeiras décadas do século XX, Einstein anuncia a Teoria da Relatividade, Santos Dumont voa com o 14 Bis, Auguste Lumière concebe a fotografia colorida e, nas artes plásticas, surge o cubismo de Picasso e Braque. O escritor e teatrólogo francês, Antonin Artaud, é uma das figuras mais influentes no meio intelectual francês e europeu. Os movimentos vanguardistas, como o Art Nouveau na pintura e principalmente arquitetura, buscavam conceitos artísticos que represen- tassem as novas tendências da humanidade, mas principalmente, uma reação aos valores europeus dos últimos três séculos, movidos pelas incertezas políticas e pela psicanálise de Freud.
O arquiteto Le Corbusier foi um dos destaques modernistas, enquanto na música, Stravinsky e Shoenberg são ícones do movimento, além de Debussy, Satie, Stockhausen, John Cage e outros. Na Literatura Modernista, que de certa forma combinava-se com o Simbolismo, consagrou autores como T. S. Elliot, James Joyce, Fernando Pessoa, Apollinaire e Franz Kafka. A Staatliches Bauhaus, escola alemã de artes e arquitetura fundada em 1919, foi uma das maiores propagandistas e precursoras de movimentos vanguardistas até 1933, quando foi fechada pelo estado nazista na república de Weimar, sob a pena de "degenerar" a arte pura européia combinando-a com outras influências (orientais, por exemplo). Sendo esse conceito exatamente o oposto dos ideais fascistas que promulgavam a superioridade dos europeus.

Expressionismo
O Expressionismo surge em 1905, mas ganha força após a Primeira Guerra Mundial. O Expres- sionismo busca retratar a realidade com as proporções sentidas, não apenas reproduzir a realidade. Assim como o Cubismo busca mostrar vários pontos de vista em vários tempos, o Expressionismo também vem afirmar esteticamente que não existe uma realidade única. De certa forma, compartilha características comuns com o romantismo, como o subjetivismo, além do cubismo e simbolismo, e soa como uma reação artística à Primeira Grande Guerra. Nesse momento, há também uma influência das artes africanas e orientais dentro do contexto europeu.
O norueguês Edvard Munch é um dos precursores do expressionismo e sua influência estenderia-se e tornaria-se uma das mais intensas nos anos seguintes do movimento. Vincent van Gogh, que cometeu suicídio em 1890, portanto, 15 anos antes do surgimento "oficial" do Expressionismo, também teve grande influência entre os pintores expressionistas.

Cinema
No cinema alemão o expressionismo encontrou sua tradução para as massas. Os filmes O gabinete do Dr. Caligari (1920) e Nosferatu (1922), inspirado no livroDrácula de Bram Stoker (1897), Metrópolis (1927) eDrácula (1932, com Bela Lugosi no papel principal) são símbolos do expressionismo. Ainda no cinema, na década de 40 surgiu o Cinema Noir.
Baseado em Literatura policial, Cinema Noir tem como principais características detetives astutos, policiais inflexíveis, damas sensuais e vilões perversos, envolvidos em investigações e tramas conspiratórias. Outro elemento importante do Cinema Noir é a ambientação das tramas, que ocorre geralmente nas metrópoles americanas, envolvidas em uma atmosfera de sombras e mistério. Como nos filmes expressionistas, a fotografia em preto e branco ressalta este clima soturno.
A expressão Nouvelle Vague, criada pela escritora Françoise Giroud, surge na revista francesaL''Express em 1958, inicialmente, para designar um fenômeno contestatório dos movimentos artísticos. Porém, esta expressão viria fixar-se para definir o movimento cinematográfico francês que surge nesta mesma época.
Influenciada pelo neo-realismo italiano e por diretores norte-americanos como Alfred Hitchcock, John Ford e Howard Hawks, a Nouvelle Vague recria a linguagem cinematográfica e aborda essencialmente questões existencialistas, praticamente abandonando temas corriqueiros como política e sociedade. Ainda, traz como uma de suas propostas técnicas, a reação aos aspectos convencionais do cinema, principalmente, a narrativa. Nesse contexto, enquadram-se também obras de baixo orçamento com equipes reduzidas e filmagens em locais públicos.
Essas características influenciaram toda a cinematografia mundial, inclusive o cinema novo brasileiro. Jean-Luc Godard e François Truffaut são as maiores referências da Nouvelle Vague francesa. Algumas das principais obras da fase inicial da Nouvelle Vague são Acossado (de Godard), Os Incompreendidos e Jules et Jim, (François Truffaut), HiroshimaMon Amour (Resnais - 1959), Paris Nos Pertence (J. Rivette - 1960) e Trinta Anos Esta Noite (Louis Malle – 1963).
O sueco Ingmar Bergman também teve papel significativo. Entre seus filmes, destacam-se O Sétimo Selo (1956), onde um homem aposta sua vida jogando xadrez com a morte; Morangos Selvagens (1957), Persona (1966), Gritos e Sussurros (1972), e O Ovo da Serpente (1976), entre outros de intensa densidade dramática.

Impressionismo
O movimento impressionista, que buscava uma precisão maior nas cores e suas combinações, teve Renoir e Monet como suas principais referências na pintura. A música impressionista passa a descrever imagens e algumas obras trazem títulos como Reflexos na Água (Claude Debussy – França 1862 - 1918) baseada em estruturas modais do Oriente e do período medieval.

Dadaísmo
Em 1916, na cidade suíça de Zurique, surge o movimento vanguardista denominado Dadaísmo, que é compreendido por alguns como uma resposta das artes à 1ª Guerra Mundial. Caracterizado pela oposição a todo tipo de coerência e equilíbrio artístico, o dadaísmo abandonou os rigores acadêmicos e destacou a liberdade criativa através da arte abstrata. Seu slogan era: "A destruição também é criação".
Até mesmo a palavra dada foi escolhida ao acaso para batizar o movimento. Hugo Ball e Tristan Tzara, dois dos fundadores do dadaísmo, escolheram, aleatoriamente, uma palavra num dicionário alemão-francês. Dada, que em francês significa "Cavalo de Pau" numa linguagem infantil (pré-lógica) era um termo suficientemente vago e desconexo; ou seja, o ideal para representar o "espírito dadaísta".
O dadaísmo desenvolveu-se principalmente na literatura e artes plásticas até aproximada- mente 1921. Mas suas bases foram essenciais no modernismo. Principalmente para o Surrealismo, que é derivado direto do dadaísmo.

Surrealismo
Em 1924, a publicação de Manifesto do Surrealismo, de André Breton (inspirado pelos conceitos psicanalíticos de expressão do Inconsciente), marcou oficialmente o surgimento do movimento. No surrealismo, a criação artística manifesta-se livremente de modo a criar uma realidade subjetiva. Temas como a fantasia, tristeza e melancolia também são abordadas no surrealismo.
Na década de 20 o Surrealismo desenvolve-se também no Cinema. Um cão Andaluz (1928) do espanhol Luis Buñuel escrito em parceria com Salvador Dali é considerado um manifesto do cinema surreal. Dois anos mais tarde, Buñuel produz A Idade do Ouro, outra referência do movimento. O Anjo Exterminador, A Bela da Tarde, O Discreto Charme da Burguesia e o Obscuro Objeto do Desejo, também são obras significativas de Bruñel. Em 1932, o francês Jean Cocteau produzSangue de um poeta.
No cinema surrealista não há preocupações com enredos. Apenas as imagens expressam desejos irracionais através de metáforas visuais. Além do desprezo pela burguesia, convenções morais, religiosas e políticas.

Cabaret Culture
Oficialmente, a Cabaret Culture compreende o entre-guerras (1918-1939). Mas antes, os Cabarés já reuniam vanguardistas que filosofam sobre política e inovadoras tendências artísticas. A "cultura de cabaré" instaura movimentos que se denominam undergroundalternativo ou contra-cultura pelos pensadores. As obras do escritor Bertold Brecht e do músico Kurt Weil (ambos alemães) são sólidas referências deste período. Enquanto o fascismo de Benito Mussolini e Stalin e o nazi-fascismo de Hitler impunham a tirania sobre a Europa.


Beatnick e suas composições

Aproximadamente a partir de 1950 surge a geração Beatnick, caracterizada por resgatar elementos dos primeiros anos do século XX, no período da "Geração Perdida", dos anos que intercalaram as duas grandes guerras. O existencialismo de Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger, enfatizando o indivíduo e a singularidade de suas experiências, é uma das bases "filosóficas" da geração Beatnick. A Cultura Beatnick também teve como influência o situacionismo, movimento artístico e sócio-cultural, que surgiu na Itália na segunda metade da década de 50 e estendeu-se fortemente até início dos anos 70, promovendo e incentivando uma revolução de conceitos nas artes, tendo até mesmo uma presença marcante no movimento parisiense Maio de 68. Apesar disso, os Beatnicks também buscavam uma espiritualidade transcendental e "não religiosa".
Roupas escuras, boina preta e óculos escuros compõem a indumentária dos Beats que se interessam pelas culturas africana, ameríndia e oriental, reunindo-se em clubs à meia-luz e ambientes que remontam ao decadentismo e à cultura de cabaré parisiense, mas movidos inicialmente ao som de um bom Jazz norte-americano.
Dentro do beatnick americano surgiu Jack Kerouac, autor de On the Road (1957), livro emblemático dos beats americanos. Kerouac também teria sido quem cunhou a expressão Beatnick, que John Clellon Holmes consagraria no artigo This is the Beat Generation, de 1952. Allen Ginsberg é autor do poema The Howl (1956), obra considerada um dos marcos dessa cultura. Ginsberg também participaria das letras e shows do The Clash no início dos anos 80, além de participações com Paul McCartney e Elvin Jones, entre muitos outros. William Burroughs foi um dos beats mais atuantes com suas obras Naked Lunch e Junkiee influenciou as composições de David Bowie na década de 70.
O Jazz era o estilo mais consumido entre os beats, mas na década de 60 o Rock também é adotado como uma referência do movimento. Originalmente, a poesia beat era recitada com o apoio de músicos vanguardistas como os jazzistas, e posteriormente, com o Rock. Não apenas literariamente, mas também "filosoficamente", Rimbaud e Baudelaire eram grandes referências culturais para os beats (como no caso do poeta William Burroughs). A banda inglesa Manfred Mann popularizou o visual do movimento que, no decorrer dos anos, iria transformar-se num estereótipo consumível pelas massas.
"Eram instintivamente individualistas, mas nunca conseguiram manter o mundo fora dos seus sonhos". Esta frase do artigo This is the Beat Generation, sintetiza o movimento Beatnick, que foi um dos mais influentes da história recente e, de certa forma, antecessor dos hippies que surgiriam anos depois, influenciando também vários movimentos posteriores e, conseqüentemente, a subcultura gótica/darkwave.


Hippie, Glam e Punk – Intersecções até a Subcultura Gótica

A origem do termo Hippie está associada ao escritor Norman Mailer que definiu o existencialismo dos beats americanos como "Hipster" em 1957. Fatores políticos, econômicos e sociais fizeram dos hippies um grupo de estética multicolorida e comportamento politizado. Os estereótipos e a "filosofia" dos Beatnicks e dos Hippies são um tanto distintas. Mas há uma linha que une esses dois grupos. Naturalmente, a geração Beatnick adotou outras influências no decorrer dos anos, e em 1967 a cultura Beatnick dos Estados Unidos se diluiu em Hippie, Glam-Punk e Punk-Beat, sendo que estas duas últimas, são em grande parte o mesmo movimento.
Enquanto isso, o escritor canadense Leonard Cohen abandona sua vida literária e aventura-se na música. Seu álbum de estréia, Songs of Leonard Cohen, influenciaria artistas como The Sisters of Mercy e Nick Cave.
Paralelamente na Alemanha, em meados da década de 60, surgia do experimentalismo um estilo conhecido como Krautrock, baseado numa combinação psicodélica com improvisação do Jazz e sintetizadores que produziam uma sonoridade eletrônica, de classificação musical complexa, mas que expôs a Alemanha no cenário Pop/Rock europeu. Mais tarde, o Krautrock foi uma das principais influências das tendências da música eletrônica, como o Sith - Pop e EBM.
No início da década de 70, o Punk nova-iorquino, do Club CBGB, cultivava características comuns aos beats. Numa visita à cidade, Malcolm McLaren, dono de uma Sex Shop em Londres, resolveu levar a "ideologia" Punk para a Inglaterra e reuniu um grupo de adolescentes, freqüentadores de sua loja, criando o Sex Pistols. O "punk britânico", que emergiu para sociedade e a mídia entre 1976 e 1977, concebido por Malcom, era intencionalmente exagerado se comparado ao original, de Richard Hell e sua Blank Generation.
Ainda em 1970, surge o Glam-Rock e o Glam-Punk que influenciariam o Gótico do final desta década. Em Nova York, a banda The New York Dolls é a referência. Na Inglaterra, Marc Bolan, T-Rex e David Bowie tornam-se ícones desta tendência. Em 1974, David Bowie lança o álbum conceitual Diamond Dogs, que aborda o romance 1984 de George Orwell. Diamond Dogs foi definido pelo próprio Bowie como Gothic, em alusão a um espírito dramático e barroco do século XX. Bowie ainda produziu álbuns solos de Iggy Pop, ex–The Stooges, que influenciariam posteriormente, os vocais de Peter Murphy do Bauhaus. Em 1977 a banda Nova-Iorquina Suicide, lança seu primeiro álbum que mistura música eletrônica e punk obscuro.
Enquanto isso o Rock passa da fase "adolescente" e as bandas The Doors e The Velvet Underground surgem na cena em 1967. O prédio, conhecido com Factory, alugado pelo pintor Andy Warhol abriga vanguardistas de várias expressões e torna-se uma referência cultural e o principal reduto de criação do Velvet Underground. O vocalista e guitarrista da banda, Lou Reed, foi fortemente influenciado pelo amigo e "guru pessoal", Delmore Schwartz, escritor americano, chegando a dedicar várias músicas ao autor.
Quando Lou une-se ao músico erudito John Cale, sua pretensão é compor letras no estilo da Literatura Beatnick associada ao instrumental de Rock experimental. Patty Smith também traz referências semelhantes a partir de seu disco de estréia, Horses (1975). Enquanto isso, Jim Morrison, também influenciado pela prosa beat e William Blake, traça ao lado de Ray Manzareck uma trilha semelhante às intenções da dupla Lou Reed e John Cale. O experimentalismo musical e a forte presença da cultura beat são determinantes na subcultura glam/punk/krautrock que foi influência direta da cultura gótica/darkwave que se formaria a seguir.


Os módulos da subcultura gótica

Em 1972, o filme musical Cabaret, com Liza Minelli, com sua estética de cabaré e decadência berlinense do início da década de 30, influenciou em 1976 um grupo de Londrinos importantes: O Bromley Contingent, que incluía Siouxsie Sioux, Sue Catwoman, Debbie Juvenile, Philip Salon, John Richie (Sid Vicious), Berlin, Steve Severin e Billy Idol. A estética Cabaret é reciclada e chega ao Gótico.
No final da década de 70, o termo Gótico torna-se "sinônimo" de irracional, imaginativo, ou"que ousa penetrar nas trevas da mente e terrível condição humana", como havia sido usado na Inglaterra. Porém, até os primeiros anos de 1980, os termos Gótico/Goth e Positive-Punk são usados para descrever o mesmo movimento.
Esse período, ainda classificado como pós-punk, traz uma certa indefinição musical devido às diversas influências agregadas pelas bandas que surgiam. Outros ascendentes do Punk partiam para uma sonoridade mais experimental e foram classificadas como New Wave. Ainda nesse mesmo contexto, mas na Inglaterra, surge o New-Romantic e o No Wave. De 1979 a 1983, algumas bandas pós-punk seriam chamadas de Góticas, outras não. Posteriormente, bandas de outros estilos musicais também seriam chamadas de Góticas.
O movimento New-Romantic consistia numa versão mais suave e comercial da New Wave americana. A sonoridade trazia influências de Soul, Funk, Disco e Punk com sintetizadores e baterias eletrônicas. Depeche Mode, David Bowie e Duran Duran eram as maiores expressões do movimento, que contava ainda com o surgimento da MTV americana, que teve grande participação na divulgação dos clipes das bandas. Porém, o New-Romantic não possui uma relação direta como o Romantismo e suas releituras anteriores, mas também compõe parte da base cultural que estava se desenvolvendo.
Um pouco antes, com o uso de temas niilistas, timbres graves das guitarras e linhas de baixo, a No Wave utilizava-se também de microfonia e outros sons que interferissem na construção comum da música. Nesse momento, o Industrial também já estava se estruturando.
Ainda neste período, sob as novas perspectivas da Revolução Sexual e o impasse da Guerra Fria, além da música, o cinema também influenciava na moda e no comportamento. Foi neste período, aproximadamente 1979 a 1983, que a subcultura gótica/darkwave aglutinou elementos da Geração Beatnick, Punk, pós-Punk, Glam, New-Romantic e No Wave, entre outros. Esta combinação de tendências e a consolidação que viria a seguir ocorreram principalmente na Inglaterra. Mas no mesmo período bandas como Cristian Death, Misfits e TuxedoMoon já estão em atividade nos Estados Unidos.

Arquétipos no cinema 80/90
Em 1982, o filme Blade Runner (de Ridley Scott), que aborda o conflito entre seres humanos e andróides humanizados nas primeiras décadas do século XXI, reafirmou as tendências futuristas de estilo e vestuário. No filme The Hunger (Fome de Viver) de 1983, David Bowie e Catherine Deneuve representam um casal de vampiros em busca de sangue. Há uma cena em que a dupla, usando Ankhs egípcios, está à espreita de suas presas numa casa noturna ao som de Bela Lugosi’s Dead, tocada pelo próprio Bauhaus. Há ainda o filme alemão produzido em 1987,Der Himmel ünder Berlin (de Win Wenders, lançado também com os títulos Wings of Desire ou Asas do Desejo), dois anjosperambulam pela Berlim dividida do pós-guerra, confortando a tristeza dos cidadãos, até que um dos anjos apaixona-se e deseja tornar-se humano.
Estes três filmes abrigam arquétipos que seriam reconhecidos, nos anos seguintes, como alguns dos elementos que comporiam a subcultura Gótica. Em Blade Runner, há a figura do andróide sensível, humanizado e conflitante num cenário urbano decadente. The Hunger inclui num mesmo contexto David Bowie (ícone do Glam da década 70), a banda Bauhaus (principalmente Peter Murphy) e a figura do Vampiro com a simbologia do Ankh, e aborda a questão da mortalidade humana. Em Asas do Desejo, há um conflito "razão x paixão" com abordagem decadente e existencialista dos anjos em meio aos cidadãos comuns.
Nos anos 90, a refilmagem de Drácula de Bram Stoker (1992), feita por Coppola se torna uma nova referência. Também em 1994, Entrevista com o Vampiro, o livro escrito em 1976 por Anne Rice se torna filme, retomando questões existenciais do molde de The Hunger, de 1983.

A consolidação
O termo Gothic, usado pela mídia e adotado por algumas bandas, prevalece a partir de 1983/84 e as bases da subcultura, tanto na música como no comportamento e visual, já estão concretizadas. O club londrino Batcave (Batcaverna) é inaugurado em 1982 e funciona como um catalisador das tendências emergentes. Na Batcave, além de Specimen, Bauhaus, Alien Sex Fiend e Siouxsie Sioux, reúnem-se personalidades como Nick Cave (The Bithday Party) e Robert Smith (The Cure). De Londres para a Alemanha, bandas como X-Mal Deutschland, Einsturzende Neubauten e Malaria são essenciais.
Nos anos seguintes, até o final da década de 80, a música da subcultura gótica/darkwave vê emergir novos artistas influenciados, principalmente, pelas bandas do período pós-Punk. Neste momento, The Sisters of Mercy, The Mission, Christian Death e outros, estabelecem "padrões" que seriam seguidos. Mas também surgem "sub-estilos" que ampliam a diversidade musical da cena. A sonoridade inclui influências do Pop e música eletrônica. Bandas que produzem estilos que seriam depois classificados como Darkwave e Ethereal, já estão em atividade, como Cocteau Twins(1980/81), Dead Can Dance (1981), Trisomie 21 (1982) e Opera Multi Steel (1983/84).
Entre Góticos assumidos e simpatizantes, alguns nomes incontornáveis do período 1979 a 1986 são: Bauhaus, UKDecay, The Damned, Siouxsie and The Banshees, The Cure, Echo and The Bunnymen, Soft Cell, Southern Death Cult, X-Mal, Einsturzende Neubauten, Malaria, Love and Rockets, Alien Sex Fiend, Sex Gang Children e Specimen. Ainda podemos citar, Joy Division, The Smiths, Nick Cave and The Bad Seeds, Virgin Prunes, The Fields Of Nephillin, The Jesus and Mary Chain, Cabaret Voltaire, Cocteau Twins, Trisomie 21, Opera Multi Steel, Clan of Xymox, Poesie Noire, e inúmeros outros, sem aqui nos aprofundarmos nas importantes tendências, Industrial, Sinth e EBM, ligadas a esta cena.

No Brasil
No Brasil, a subcultura gótica desenvolveu-se fora do contexto original. A ditadura brasileira que se estendeu por mais de vinte anos (1964 a 1985), condicionou grande parte da produção artística e assim, indiretamente, costumes e comportamento social. Por este motivo, elementos essenciais como o Glam, não tiveram uma repercussão tão grande e nítida como na Inglaterra, por exemplo, e o Punk chegou em outro contexto.
Nas grandes metrópoles brasileiras, até mesmo o termo gótico chegou com um certo atraso, passando a ser aplicado a partir de 1985/86, se popularizando progressivamente até substituir o termo Dark (até 1989/90), que era até este momento usado apenas no Brasil (em outro sentido, na Itália, como "angolo dark" ou "dark inglês").
Mesmo assim, não se pode afirmar que a "essência" do Gótico e do Dark sejam as mesmas. Elementos figurativos como o Vampiro tornam-se também referência estética e criativa nos anos 90.
Atualmente, o conceito brasileiro do que significa gótico, quando aplicado à subcultura, é muito amplo. Alguns consideraram gótico, boa parte do que foi produzido (musicalmente) a partir de meados da década de 80. Ainda, a cena gótica brasileira não possui tanta organização como na Europa e Estados Unidos. Mas a música traz representantes importantes como as bandasElegia e The Tears of Blood, entre muitas outras.

A partir da década de 90
Nos anos 90 podemos citar como referências musicais do Gótico e Darkwave, bandas comoLondon After Midnight, Switchblade Symphony, Faith and Muse, Das Ich, Sopor Aeternus, Inkubus Sukubbus, Bella Morte, Nosferatu, Cranes, Diary of Dreams, Cruxshadows, Lycia, Wolfsheim, Clan of Xymox, Project Pitchfork, Love Spirals Downwards, entre tantas outras.
Na passagem para o século XXI esta geração dos anos 90 já é acompanhada por uma nova safra de bandas como The Vanishing, The Ghost of Lemora, Collide, Diva Destruction, Voltaire, Audra, Qntal, Cinema Strange, BlutEngel, 69 Eyes, The Last Days of Jesus, Diorama, Chants of Maldoror, Hatesex, Android Lust, Ego Likeness, Paralised Age, Thou Shalt Not, In Strict Confi- dence, Eisbrecher, citando apenas algumas bandas em estilos distintos da subcultura gótica, pois a lista é muito maior.
Ainda, subgêneros musicais como o Trip-Goth e Dark Ambient, estão emergindo e se transformando. A cena da subcultura gótica/darkwave já conta com clubes (casas noturnas), eventos, uma intensa produção cultural (não apenas musical) e a interação dos seus adeptos, que é uma de suas molas propulsoras.
Atualmente, percebe-se que a subcultura gótica não apenas se estabilizou em sólidas bases culturais, mas também continua sendo cultivada, ampliando-se em todas as partes do mundo. Há um verdadeiro circuito cultural que não se baseia apenas na música e no comportamento, mas em todas as outras expressões artísticas que cada gótico possa criar, recriar e renovar.